segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ADVENTO

  
A nossa reflexão de hoje será sobre o Advento. No primeiro domingo do mês de dezembro damos início ao Tempo do Advento.

O que significa “advento”? Advento quer dizer aquilo que vem vindo, que vai chegar. Por isso, antes de chegar o Natal, há o tempo do Advento. São exatamente quatro semanas, durante as quais se espera o nascimento de Jesus. Esse tempo, ou seja, durante essas quatro semanas, devemos nos preparar. De que maneira? Bem, esse tempo é dedicado à reflexão e preparação para a chegada do Senhor Jesus, como acabei de falar.

Muito tempo antes de nascer, Jesus já era esperado. Os antigos patriarcas e profetas hebreus esperavam o Messis, isto é, o Salvador, Aquele que seria enviado por Deus para libertar o povo de Israel.

E nós, hoje em dia, também devemos esperar Jesus durante o Advento. Ele é o Messias que, a cada ano, chega no Natal para nos trazer a paz, a promessa de uma vida futura com liberdade e amor.

Então, vamos assim fazer:

- na primeira semana do Advento: nesta semana, você deve começar a se preparar para a chegada do Menino Jesus. É precido ver se tudo está em ordem para recebê-lo. Veja bem: faça uma revisão de sua vida, de seus atos... como tenho vivido? Tenho procurado a paz, ser um promotor ou promotora da paz entre as pessoas, meus irmãos e amigos? Tenho seguido ou, ao menos, tentado seguir os ensinamentos de Jesus? Tenho desempenhado minha missão de discípulo missionário? Tenho sido um pai ou mãe cuidadoso, levando meus filhos à Igreja?

- na segunda semana do Advento: nesta semana, você deve conversar com seus amigos, seus familiares, seus colegas de trabalho sobre a chegada do Menino Jesus. Será que todos eles estão também preparados? Se não estiverem, ajude-os.

- na terceira semana do Advento: agora já falta pouco para Jesus nascer. Você pode, juntamente com seus amigos e familiares, formar um grupo e procurar falar da chegada do Menino Deus a outras pessoas, incusive às crianças, aos seus alunos, é uma ótima oportunidade para evangelizar, talvez essas pessoas, essas crianças, esses jovens e adolescentes não estejam se preparando muito bem para o Natal...

- na quarta semana do Advento: agora faltam apenas alguns dias para Jesus chegar... Então, vamos aguardá-lo com muita alegria, com entusiasmo, com amor no coração, assim como fizeram os pais de Jesus, Maria e José.

Uma dica: aliás essa dica não é idéia minha original, muitas pessoas têm o costume, para acompanhar bem o tempo do Advento, de preparar uma coroa com galhos de plantas, ou de papel ou qualquer outro material e ali fixar quatro velas, cada uma simbolizando uma semana e à medida que as semanas forem acontecendo cada vela vai sendo acesa, de modo que, ao final todas estarão acesas, fica lindo! No primeiro domingo do Advento, acenda uma velinha e reze uma oração para o Menino Jesus, apagando-a ao terminar de rezar. Faça a mesma ciosa nos outros domingos, sempre acendendo mais uma vela. No último domingo, acenda as quatro velas, isso tudo, é claro, rezando.

Para finalizar, vamos fazer a Oração do Advento, bem simples, e só ao ler você vai gravar:

“Eu o espero, Jesus. Venha logo!
Você nasceu em Belém e foi um menino, como eu fui.
Mas eu sei que você é o Filho de Deus, que veio do céu.
Traga então a sua paz e a sua amizade para o meu coração, que o espera impacientemente.
E também para o coração de todos os homens.
Ensine a eles o caminho que leva à gruta de Jesus
e faça com que todos se sintam irmãos.
Amém”.

Brasília 30/11/2012
Maria Auxiliadôra

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

SOLENIDADE DE CRISTO, REI DO UNIVERSO


Hoje falaremos sobre a Solenidade de Cristo, Rei do Universo – a Festa de Cristo Rei. Esta é uma das festas mais importantes no calendário litúrgico, nela celebramos aquele Cristo que é o Rei do universo. O seu Reino é o Reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz. O título dado a Cristo, ou seja, “Rei”, põe em relevo sua soberania sobre todo criado.

Esta festa litúrgica foi estabelecida pelo Papa Pio XI em 11 de março 1925. O Papa quis motivar os católicos para reconhecer em público que o líder da Igreja é Cristo Rei. Mais tarde a data da celebração foi mudada dando um novo senso. O atual calendário mantém esta festa, colocada no último domingo do ano litúrgico, ou seja, no final de novembro.

O ano litúrgico termina com esta festa que salienta a importância de Cristo como centro da história universal. É o alfa e o ômega, o princípio e o fim. Cristo reina nas pessoas com a mensagem de amor, justiça e serviço. Jesus é o rei e a realeza de Jesus não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se concretiza de acordo com uma lógica própria, a lógica de Deus. O Evangelho desse próximo domingo, Jo 18, 33b-37, especialmente, explica qual é a lógica da realeza de Jesus e o Reino de Cristo é eterno e universal, quer dizer, para sempre e para todos os homens.

Esta festa tem um sentido escatológico (que diz respeito às últimas coisas, em referência a um acontecimento decisivo) na qual nós celebramos Cristo como Rei de todo o universo. Nós sabemos que o Reino de Cristo já começou a partir de sua vinda na terra há quase dois mil anos, porém Cristo não reinará definitivamente em todos os homens até que volte ao mundo com toda a sua glória no final dos tempos. Jesus nos antecipou sobre esse grande dia, em Mateus 25, 31-46.

Na festa de Cristo Rei celebramos que Cristo pode começar a reinar em nossos corações no momento em que nós permitimos isto a ele, e o Reino de Deus pode, deste modo, fazer-se presente em nossa vida. Desta forma estabelecemos o Reino de Cristo de agora em diante em nós mesmos e em nossas casas, emprego e vida.

Jesus nos fala das características do seu Reino por várias parábolas no capítulo 13 de Mateus:

"O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando dele, semeou no seu campo".

"O qual é realmente a mais pequena de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos".

"O reino dos céus é semelhante ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado".

"Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo".

Então, nestas parábolas Jesus nos faz ver claramente que vale a pena procurar e viver o Reino de Deus, isto vale mais do que todos os tesouros da terra e que o crescimento dele será discreto, sem ninguém perceber, mas efetivo.

E a Igreja tem a responsabilidade de orar e aumentar o reinado de Jesus Cristo entre os homens. O aumento do Reino de Deus deve ser o centro de nossa vida como membros da Igreja. Fazer com que Jesus Cristo reine no coração dos homens, nas casas, nas comunidades e nas cidades.

Assim, poderemos chegar a um mundo novo no qual reinará o amor, a paz, a justiça e a salvação eterna de todos os homens.

Para que Jesus reine em nossa vida, devemos em primeiro lugar conhecer Cristo. A leitura e reflexão do Evangelho, a oração pessoal e os sacramentos são os meios para conhecê-Lo e as graças recebidas vão abrindo os nossos corações a seu amor. Trata-se de conhecer Cristo de uma maneira experimental e não só teleológica. Temos que fazer uma experiência de Cristo. Devemos rezar com profundidade, escutar Cristo que nos fala. Ao conhecer Cristo expressaremos o amor de maneira espontânea, por que Ele é bondade, Ele é amor.

O amor a Cristo nos levará quase sem perceber a pensar como Cristo, querer como Cristo e sentir como Cristo, vivendo uma vida de verdadeira caridade e Cristandade autentica. Automaticamente imitaremos Cristo e cada vez mais o conheceremos e o amaremos e amando-o, então podemos experimentar seu Reino.

Dedicar a nossa vida a expandir o Reino de Cristo na terra é o melhor que podemos fazer, pois Cristo nos recompensará com alegria e uma paz profunda e imperturbável em todas as circunstancias da vida.

Oração a Cristo Rei

Cristo Jesus,
Eu vos reconheço como Rei do universo.

Tudo isto que foi feito, foi criado por Vós.
Exercitai, então, sobre mim todos os vossos direitos.

Renovo as minhas promessas do batismo.

Renuncio a Satanás, a suas vaidades e as suas obras
E vos prometo de viver como um bom cristão.

E de modo particular, me comprometo a fazer triunfar com todas as minhas forças, os direitos de Deus e da Vossa Igreja.

Divino Coração de Jesus,
Vos ofereço as minhas pobres ações, para obter que todos os corações reconheçam a vossa realeza sagrada para que, assim, se estabeleça em todo mundo o reino da vossa paz.
Amém


Brasília 23/11/2012
Maria Auxiliadôra Martins Melo

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CARTA APOSTÓLICA PORTA FIDEI – ANO DA FÉ - Resumo


1 – BATISMO: PORTA DE ENTRADA DA FÉ - O Batismo é a porta de entrada da fé para uma vida em comunhão com Deus em Igreja, quando o coração está aberto para receber a graça que transforma. É um caminho que dura a vida inteira até a morte para a vida eterna. Com o Batismo, se professa a fé na Trindade - crer na Trindade é crer no Deus de Amor (Pai, Filho e Espírito Santo).

2 – REDESCOBERTA DO CAMINHO DA FÉ – Em meio a profunda crise de fé que a sociedade está passando e a preocupação dos cristãos com coisas alheias (mundanas), quando deveriam preocupar-se com a própria fé, que é o pressuposto de sua vida diária, o Papa propõe que se redescubra o caminho da fé para fazer brilhar a alegria do encontro com Cristo.

3 – JESUS: PALAVRA ENCARNADA - Não se pode deixar que a fé morra, mas readquirir o hábito de alimentar-se com a Palavra de Deus e a Eucaristia, na Igreja, pois só Jesus Cristo satisfaz plenamente o coração do homem, só Ele é o caminho para a salvação.

4 – PROCLAMAÇÃO DO ANO DA FÉ - Em decorrência da necessidade da redescoberta da fé, o Papa decidiu proclamar o Ano da Fé, com início em 11.10.2012 (50 anos da abertura do Concílio Vaticano II e 20 anos do Catecismo da Igreja Católica) e término em 24.11.2013 (Solenidade do Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo), com o objetivo de ilustrar a todos os fiéis a força e a beleza da fé. A abertura do Ano da Fé vai coincidir com o Sínodo dos Bispos, cujo tema é “Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã”. Já houve outra celebração do Ano da Fé, em 1967, pelo Papa Paulo VI, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo.

5 – SUBSÍDIO PARA OS CRISTÃOS - A exemplo do Ano da Fé proclamado pelo Papa Paulo VI, este Ano, também, se faz necessário como subsídio para orientar os cristãos, bem como toda a Igreja, para o século que se inicia.

6 – A FÉ COMO RESPOSTA - O Ano da Fé é um convite para uma renovada conversão a Jesus Cristo, com o testemunho dos crentes e da Igreja, guiada e fortalecida pelo próprio Cristo, pois a fé é a resposta ao amor de Deus.

7 – A FÉ TORNA A PESSOA FECUNDA - Cristo chama o homem e este é atraído para Cristo, que o impele a evangelizar. Também, à Igreja, Cristo confia-lhe a missão de evangelizar que deve ser renovada continuamente a fim de que a mensagem seja transmitida com alegria, com convicção, com entusiasmo; a fé torna a pessoa fecunda.

8 – PROFISSÃO DO CREDO - O Papa convoca toda a Igreja para celebrar o Ano da Fé de forma digna e fecunda, para intensificar a reflexão sobre a fé, professar publicamente a profissão do Credo e revigorar a adesão ao Evangelho.

9 – LITURGIA E EUCARISTIA - Essa convocação é, também, para todos os crentes professarem a fé de maneira plena, convicta, confiante, sobretudo pelo testemunho de vida, inclusive professando o Credo em todos os momentos: ao se deitar, ao se alimentar, nas praças etc. Dessa maneira, a celebração da fé ajudará a redescobrir a importância da liturgia e, principalmente, a centralidade da Eucaristia.

10 – CONTEÚDOS DA FÉ - Há um percurso para se entender os conteúdos da fé: Primeiro, quando se professa com a boca, pressupõe-se que se creia, pois o coração é que dá esse indício do dom da fé em Deus e indica um testemunho e um compromisso. Portanto, o coração indica o ato pessoal e livre que acolhe o conteúdo da fé; a boca indica os conteúdos professados. O coração indica a dimensão pessoal, a boca a dimensão comunitária. A fé é uma decisão pessoal e um ato da liberdade que exige assumir com responsabilidade social aquilo em que se acredita. Segundo, o primeiro sujeito da fé é a Igreja. A profissão pessoal da fé se fundamenta na fé recebida, por meio do Batismo.

11 – IMPORTÂNCIA DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA - Trata da importância do Catecismo da Igreja Católica, um dos frutos mais valiosos do Concílio Vaticano II e norma segura para o ensino da fé, a serviço da comunidade eclesial. O centro do Catecismo é a Pessoa de Jesus Cristo. Nele sobressai a doutrina confiada à Igreja, bem como a profissão de fé, a liturgia, os sacramentos e a vida moral.

12 – FÉ E CIÊNCIA - O Catecismo é instrumento de apoio da fé para formação dos cristãos, inclusive para mostrar que não há qualquer conflito entre fé e ciência. A Congregação da Doutrina da Fé deverá emitir Nota com algumas indicações para viver o Ano da Fé.

13 – REVISÃO DE VIDA E TESTEMUNHOS DE FÉ - Para viver o Ano da Fé é necessário fazer uma revisão da própria história de vida, marcada pelo pecado, mas em busca da santidade. Cita as seguintes pessoas como exemplos de testemunhos fé: Maria e José, Apóstolos, discípulos, Mártires, homens e mulheres consagrados e leigos.

14 – TESTEMUNHO DE CARIDADE - O Ano da Fé será uma oportunidade para intensificar o testemunho da caridade, já que fé e caridade andam juntas, uma sustenta a outra. É a fé que permite reconhecer Jesus nos irmãos, estes são o próprio rosto de Cristo.

15 – NÃO SER INDOLENTE NA FÉ - O Papa ressalta a importância de não se negligenciar e não se tornar indolente na fé, esta é companheira da vida, é sinal vivo da presença de Cristo Ressuscitado no mundo. Deve-se ser sinal de fé pelo testemunho (testemunho credível). O Papa deseja que este Ano torne mais firme a relação com Cristo Senhor, que se tenha certeza que Ele venceu o mal e a morte, que está no meio de todos e permanece na Igreja a quem foi confiado o depósito da fé. Finaliza o documento, dedicando o Ano da Fé à Nossa Senhora, que é “feliz porque acreditou”.

Janete Gomes Seabra e Maria Auxiliadôra Martins Melo
Brasília,  21  de  julho  de  2012.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O USO DO NOME DE JESUS


Hoje refletiremos sobre “o uso do nome de Jesus” – tema do Evangelho segundo São Marcos (Mc 9,38-43.45-47-48).

Naquele tempo, João disse a Jesus: “Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demônios em teu nome e procuramos impedir-lhe, porque ele não anda conosco”.

João disse isso porque tanto ele quanto os outros discípulos ainda não tinham conseguido absorver os valores do Reino. Eles consideravam um abuso alguém que não pertencesse ao grupo deles utilizar do nome de Jesus para, no caso, expulsar demônios. Na verdade, a atitude dos discípulos mostra intolerância e, porque não dizer, ciúmes, por se julgarem donos exclusivos do bem e da verdade…

Porém, Jesus disse: “Não o proibais, pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós. De fato, quem vos der a beber um copo d’água por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço a mó que os jumentos movem e o lançassem/atirassem ao mar. E se tua mão é para ti ocasião de escândalo (te escandalizar), corta-a: porque é melhor entrar mutilado para a Vida do que, tendo as duas mãos ires para a Geena, para o fogo que não se apaga (inextinguível). E se teu pé é para ti ocasião de escândalo/te escandalizou, corta-o: melhor é entrares com um pé só (coxo) para a Vida do que tendo os dois pés, seres lançado na Geena. E se teu olho é para ti ocasião de escândalo/te escandalizar, arranca-o: melhor é entrares com um olho só no Reino de Deus do que, tendo os dois olhos, seres atirado na Geena, onde o verme não morre e onde o fogo não se apaga”.

Como vemos, Jesus dá instruções aos discípulos no sentido de lhes mostrar os valores que eles devem interiorizar, se quiserem integrar a comunidade messiânica. E para tomar parte nessa comunidade, a comunidade messiânica, não se pode estar fechado, sabe por que? Porque a comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade exclusivista, muito menos monopolizadora, que sente ciúmes quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus privilégios e direitos pelo fato de o Espírito de Deus atuar fora das fronteiras da Igreja… Ora, o Espírito Santo sopra onde quer e quando quer...

A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe, acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do ser humano; deve ser uma comunidade que sabe acolher, que sabe abraçar, que apóia e estimula todos os que atuam em favor da libertação dos irmãos, principalmente dos mais necessitados. Fazer algo que afaste uma dessas pessoas de Cristo e da comunidade é algo verdadeiramente inadmissível e impensável, esse tipo de atitude não é cristã! O cristão é diferente, deve agir diferente; ele é capaz de se alegrar com os gestos de bondade e de esperança que acontecem à sua volta, mesmo quando esses gestos resultam da ação de não-crentes ou de pessoas que não pertencem à instituição Igreja.

Que ver um exemplo? A gente cansa de ver pessoas de outros seguimentos religiosos, que não são da nossa Igreja, capazes de gestos incríveis de doação, de entrega, de serviço aos irmãos. Em nossa comunidade existem muitos grupos, pastorais que também ajudam famílias, creches, orfanatos, asilos... Então, esses gestos não são exclusivos de nenhum grupo ou seguimento religioso. Pergunto: podemos afirmar que só nós, católicos, é que temos o direito de “usar” o nome de Jesus? Claro que não. Repito: o Espírito Santo sopra onde quer...

Outra coisa: quando Jesus fala em cortar a mão ou de cortar o pé ou de arrancar o olho não é no sentido literal, ou seja, ao pé da letra... Ele quer sublinhar, enfatizar, dizer com veemência a necessidade de atuar, lá onde as ações más do homem têm origem e eliminar na fonte as raízes do mal. É no sentido de cortar o mal pela raiz, cortar os maus sentimentos, os maus comportamentos, ou seja, os comportamentos incompatíveis com os ensinamentos de Jesus e que impedem o acesso à vida plena.

A gente responde não apenas por ação, por gestos, mas também por omissão, por pensamentos, palavras... Portanto, devemos estar vigilantes às nossas atitudes e constantemente nos questionarmos: O que é que eu necessito, prioritariamente, de “cortar” da minha vida, para me identificar mais com Jesus, para merecer integrar a comunidade do Reino, para ser mais livre e mais feliz?


Brasília 01/10/2012
Maria Auxiliadôra

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Sabedoria de Deus e sabedoria do mundo


Hoje refletiremos sobre a “Sabedoria de Deus e a sabedoria do mundo” – tema do Evangelho segundo São Marcos (Mc 9, 30-37).

Vamos fazer uma pequena recapitulação. Em nossa reflexão anterior (Mc 8, 27-35), cujo tema é “Como seguir Jesus”; Jesus fala: “se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me....” Ali Jesus faz o primeiro anúncio de sua paixão. Pois bem, agora vamos refletir o segundo anúncio da paixão.

Jesus, imbuído/impregnado da lógica de Deus, está disposto a aceitar o projeto do Pai e a fazer da sua vida um dom de amor aos homens. Os discípulos, imbuídos/envolvidos da lógica do mundo, não têm dificuldade em entender essa opção e em comprometer-se com esse projeto. Mas, Jesus avisa-os de que só há lugar na comunidade cristã para quem escuta os desafios de Deus e aceita fazer da vida um serviço ao próximo, aos irmãos, particularmente aos humildes, aos pequenos, aos pobres...

Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galiléia, mas Ele não queria que ninguém o soubesse; porque ensinava os discípulos. Ao longo dessa “caminhada para Jerusalém”, Jesus vai catequizando os discípulos, ensinando-lhes os valores do Reino e mostrando-lhes, com gestos concretos, que o projeto de Deus não passa por esquemas de poder e de domínio.

E enquanto caminhavam Jesus ensinava e disse-lhes: “O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens e eles vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará.” Jesus faz o anúncio da sua paixão, morte e ressurreição, como falei, esse foi o segundo anúncio. Suas palavras denotam tranquilidade e uma serena aceitação desses fatos que irão concretizar-se num futuro próximo. Jesus recebeu do Pai a missão de propor aos homens um caminho de realização plena, de felicidade sem fim; e Ele vai fazê-lo, mesmo que isso passe pela cruz. A serenidade de Jesus vem-Lhe da total aceitação e da absoluta conformidade com os projetos de Deus.

Nós, cristãos, um dia aderimos a Jesus e aceitamos percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu. Pensemos: que valor e que significado tem, para nós, essa vontade de Deus que dia a dia descobrimos nos pequenos acidentes da nossa vida? Temos a mesma disponibilidade de Jesus para viver na fidelidade aos projetos do Pai? O que é que dirige e condiciona o nosso percurso: os nossos interesses pessoais ou os projetos de Deus?

Jesus acabou de falar, mas os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de O interrogar. Os discípulos mantêm-se num estranho silêncio diante deste anúncio. As palavras de Jesus são claras; o que não é claro, para a mentalidade desses discípulos, é que o caminho do Messias tenha de passar pela cruz e pelo dom da vida. A morte, na perspectiva dos discípulos, não pode ser caminho para a vitória. O “não entendimento” é, aqui, o mesmo que discordância: intimamente, eles discordam do caminho que Jesus escolheu seguir, pois acham que o caminho da cruz é um caminho de fracasso. Apesar de discordarem de Jesus eles não se atrevem a perguntar e permanecem calados.

A atitude (dos discípulos) mostra a dificuldade que as pessoas têm em entender e acolher a lógica de Deus. No entanto, a reação de Jesus diante de tudo isto é clara: quem quer seguir Jesus tem de mudar a mentalidade, os esquemas de pensamento, os valores egoístas e abrir o coração à vontade de Deus, às propostas de Deus, aos desafios de Deus. Não é possível fazer parte da comunidade de Jesus, se não estivermos dispostos a realizar este processo.

E quando chegaram a Cafarnaum e já estavam em casa (o termo “em casa” pode ser que se refira a casa de Pedro...), Jesus perguntou-lhes: “Que discutíeis no caminho? (sobre que discutíeis no caminho)” Eles ficaram calados, porque tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. Então, Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes: “Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos” (se alguém quiser ser o primeiro seja o último de todos e o servo de todos). Ora, na comunidade de Jesus, só é grande aquele que é capaz de servir e de oferecer a vida aos seus irmãos e com essas palavras Jesus provoca um impacto em seus discípulos, apesar de toda a convivência com Jesus...

E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a e disse-lhes: “Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou” (aquele que receber uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe; e aquele que me recebe, não é a mim que recebe, mas sim aquele que me enviou). Aqui, Jesus completa a instrução aos discípulos com um gesto: pega uma criança, coloca-a no meio do grupo, abraça-a e convida os discípulos a acolherem as “crianças”, pois quem acolhe uma criança acolhe o próprio Jesus e acolhe o Pai.

Cabe um esclarecimento: na sociedade palestina daquela época, as crianças (assim como as mulheres, os pobres, os portadores de necessidades especiais) eram seres sem direitos, não tinham direito nenhum ou quase nenhum. Eram, portanto, um símbolo dos débeis, dos pequenos, dos sem direitos, dos pobres, dos indefesos, dos insignificantes, dos marginalizados. Porém, são esses exatamente que a comunidade de Jesus deve abraçar.

No contexto da conversa de Jesus com os discípulos, o gesto de Jesus tem a seguinte significância: o discípulo de Jesus é grande, não quando tem poder ou autoridade sobre os outros, mas quando abraça, quando ama, quando serve os pequenos, os pobres, os marginalizados, aqueles que o mundo rejeita e abandona. No pequeno e no pobre que a comunidade acolhe, é o próprio Jesus (que também foi pobre, débil, indefeso) que se torna presente.

Nesse evangelho, Jesus convida-nos a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na sociedade, quer dentro da própria comunidade cristã. Na nossa sociedade, geralmente, os primeiros são os que têm dinheiro, os que têm poder, os que frequentam as festas badaladas da sociedade, os “chiques”, os que se vestem segundo as exigências da moda, os que têm sucesso profissional, os que sabem colar-se aos valores politicamente corretos… E na comunidade cristã? Quem são os primeiros?

Tais comportamentos são ainda mais graves quando acontecem dentro da comunidade cristã: trata-se de comportamentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. Nós, os seguidores de Jesus, não podemos de forma alguma pactuar com a “sabedoria do mundo”; e uma Igreja que se organiza e estrutura tendo em conta os esquemas do mundo não é a Igreja de Jesus.

As palavras de Jesus não deixam qualquer dúvida: “quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos”. Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade, simplicidade e amor, faz da própria vida um serviço aos irmãos. Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social… Na comunidade cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos.

Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu, aceitando cada serviço, cada missão, com humildade, dando o melhor de si. Pensemos: seremos capazes de acolher e de amar os que levam uma vida pouco exemplar, os marginalizados, os estrangeiros, os doentes incuráveis, os idosos, os difíceis, os que ninguém quer e ninguém ama? Fica a pergunta.

Brasília/DF 21/09/2012
Maria Auxiliadôra Martins Melo

terça-feira, 18 de setembro de 2012

COMO SEGUIR JESUS


O Evangelho Segundo Marcos (Mc 8,27-35), cujo tema é “Como seguir Jesus”, traz um breve diálogo de Jesus com seus discípulos.

Esse diálogo inicia-se com a pergunta de Jesus aos seus discípulos: "Quem dizem os homens que eu sou? Os discípulos responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros ainda, que és um dos profetas". Jesus sonda qual conhecimento tem o povo de sua pessoa e, pelas respostas, podemos concluir que a multidão coloca Jesus entre os maiores profetas, conforme a fé judaica. Ele quer saber qual a visão daqueles que o acompanharam desde o começo... Então, Jesus perguntou-lhes: “E vós, quem dizeis que Eu sou? Pedro tomou a palavra e respondeu: “Tu és o Messias”.

“Messias” em hebreu é o mesmo que “Cristo” em grego e, em latim, quer dizer “ungido”. Jesus é chamado o Messias, o Cristo ou o ungido por ter sido impregnado em plenitude pelo Espírito Santo. Jesus é o Messias que proclama o Reino de Deus. Dizer que Jesus é o Messias, o Cristo, significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. Portanto, Jesus é reconhecido como o enviado definitivo de Deus, o cumprimento de todas as esperanças de libertação, contraponto da história de Israel.

Analisando a resposta de Pedro (“Tu és o Messias”) podemos nos perguntar: E para nós, quem é Jesus e qual o lugar Ele ocupa em nossa vida? Essa pergunta continua muito atual... Será que entendemos realmente, como Pedro, que Jesus é o Messias?

Então, Jesus ordenou-lhes severamente que não falassem d’Ele a ninguém. Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas. Jesus os manda calar, não porque a resposta de Pedro não fosse certa, mas porque queria apresentar seu estilo de messianismo.

Na verdade, Pedro não entende a proposta de Jesus. Jesus fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como messias, mas não como messias sofredor. Era como uma cegueira, não enxergava nada e ainda queria que Jesus fosse como ele....

Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-LO. Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: “Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens”. E, chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes: “Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á”.

Ora, a reação de Pedro, da comunidade, pode ser entendida de duas maneiras. A primeira é que os discípulos não tinham compreendido o tipo de messianismo de Jesus que passa pela cruz. E a segunda é que os discípulos têm medo de ficar envolvidos com o destino de seu Mestre, e terem a mesma sorte. Jesus sabe que sua fidelidade ao projeto de Deus passa pelo caminho da cruz e ressurreição, por isso as palavras de Pedro soam para ele como a tentação de um messianismo alternativo, ao qual rejeita energicamente. Portanto, a oposição de Pedro (e dos discípulos, pois Pedro continua a ser o porta-voz da comunidade) significa que a sua compreensão do mistério de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro – que é a lógica do mundo – a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.

Como vemos, Jesus é apresentado como o Messias libertador, enviado ao mundo pelo Pai para oferecer aos homens o caminho da salvação e da vida plena. Cumprindo o plano do Pai, Jesus mostra aos discípulos que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas pelo amor e pelo dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo, tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.

Mas, o que significa, exatamente, renunciar a si mesmo? Significa renunciar ao seu egoísmo, ao comodismo e auto-suficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros. O cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado apenas em concretizar os seus sonhos pessoais, os seus projetos de riqueza, de segurança, de bem estar, de domínio, de êxito, de triunfo… O cristão deve fazer da sua vida um dom generoso a Deus e aos irmãos. Só assim ele poderá ser discípulo de Jesus e integrar a comunidade do Reino.

E o que significa “tomar a cruz” de Jesus e segui-LO? A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte. É amar até às últimas consequencias, até à morte mesmo! Significa a entrega da própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida – de forma total e completa – por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes. Jesus não diz “pegue a sua cruz e vá embora”, mas “tome a sua cruz e siga-Me”, porque Jesus não abandona ninguém; ao contrário, Ele está junto. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos. O cristão não tem medo de denunciar as injustiças...

No final, Jesus explica aos discípulos as razões pelas quais eles devem abraçar a “lógica da cruz”. Convida-os a entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la.

Meus amigos, quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos, não fracassa, mas ganha a vida eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas propostas. Essencialmente, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Portanto, as conclusões de Jesus valem até hoje - Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á.

Naquele tempo, a cruz era a pena de morte que o Império Romano impunha aos marginais. Tomar a cruz e carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser marginalizado pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. A cruz não é fatalismo, nem é exigência do Pai. A cruz é a consequencia do compromisso livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é Pai e que, portanto, todos devem ser aceitos e tratados como irmãos. Por causa deste anúncio revolucionário, Ele foi perseguido e não teve medo de dar a sua vida. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.

Brasília 14/09/2012
Maria Auxiliadôra

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

JESUS, PÃO VIVO DESCIDO DO CÉU


O Evangelho segundo São João (Jo 6,41-51) apresenta Jesus como o pão vivo descido do céu para dar a vida ao mundo. Mas, para que esse “pão”, que é verdadeiramente e definitivamente vivo, sacie a fome de vida que reside no coração de cada pessoa, é preciso crer, acreditar, ou seja, aderir a Jesus, acolher as suas propostas, aceitar o seu projeto, imitá-Lo, segui-l’O no “sim” a Deus e no amor aos irmãos.

Quando alguém acolhe Jesus como o “pão” que desceu do céu, torna-se um Homem Novo, torna-se uma Mulher Nova, torna-se uma Pessoa Nova, que renuncia à vida velha do egoísmo, do pecado, da solidão, da desilusão e que passa a viver na caridade, a exemplo de Cristo.

Naquele tempo, os judeus murmuravam de Jesus, por Ele ter dito: Eu sou o pão descido do céu. E diziam: Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como diz agora: ‘Eu desci do céu’! Ora, os judeus perguntavam porque não aceitavam a “pretensão” de Jesus se apresentar como “o pão que desceu do céu”. Para eles, sendo Jesus um ser humano, um homem, conhecendo a sua origem humana, filho de José e de Maria, também dois seres humanos, essa condição, ou seja, a natureza humana, excluía sua origem divina. Portanto, eles não podiam aceitar que Jesus se autodenominasse como o pão descido do céu, seria uma arrogância de Jesus, uma afronta... Pensavam eles: Como Jesus podia ter a pretensão de trazer aos homens a vida de Deus???

Então, Jesus respondeu-lhes: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair (trouxer); e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas (no livro dos profetas): E todos serão ensinados (instruídos) por Deus. Quem escuta o ensinamento do Pai e dele aprende vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai; só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade, vos digo: aquele que crê tem a vida eterna (quem acredita tem a vida eterna). Eu sou o pão da vida. Vossos pais no deserto comeram o maná e morreram. Este pão é o que desce do céu para que não pereça (não morra) quem dele comer. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá para sempre (viverá eternamente). O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo.

Como vemos, ao invés de discutir a questão da sua origem divina, Jesus prefere denunciar aquilo que está por detrás da atitude negativa dos judeus. Eles não têm o coração aberto aos dons de Deus, ao contrário, têm a mente fechada, restrita, e recusam-se a aceitar os desafios de Deus… Jesus apresenta-se como o “pão” da vida, o “pão” de Deus, Ele veio para dar vida e esperança ao mundo, mas por causa do sistema religioso que os judeus viviam não conseguiam enxergar nem entender a mensagem de Jesus. Pior, não estavam dispostos a acolhê-Lo, sofriam de uma espécie de surdez, estavam surdos , se sentiam auto-suficientes e, por isso, não precisavam de Deus.

Incrível como muitas vezes nós nos sentimos assim e agimos como “surdos”, sem querer ouvir a verdade, sem aceitar a realidade, sem enfrentar os problemas, resistindo ao perdão e não querendo superar as perdas... Pior, sem buscar Deus e deixamo-nos afundar num abismo. Olha só, a decisão está em nossas mãos, não devemos nos limitar ao que éramos, ou seja, conformados, acomodados, desesperançados, perdidos, presos a conceitos pré-fabricados, engessados à determinadas leis.... Não é que não devamos obedecer às leis, não se trata disso, mas sabemos que existem normas ultrapassadas, injustas, mal formuladas. Entre a lei e a justiça, fiquemos com a justiça! “A justiça....”, conforme o Catecismo da Igreja Católica (nº 1836) “... consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhe é devido”.

Portanto, meus amigos, mais importante é o que faremos daqui para frente, a nossa atitude, a nossa decisão de mudar, de fazer acontecer, de ser diferente, deixando para traz o velho homem, a vida antiga de erros, de pecado, de tristeza, de prisão, porque o pecado aprisiona. O que é decisivo, neste processo, é o “acreditar”, isto é, o aderir efetivamente a Jesus e aos valores que Ele veio propor. Temos que ter discernimento, isso quem nos dá é o Espírito Santo, peçamos discernimento para distinguir o que é ilusório, passageiro, modismo, do que é eterno. E nas palavras de Jesus, aquele que crê tem a vida eterna!

Brasília/DF 08.08.2012
Maria Auxiliadôra

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

JESUS, O PÃO DA VIDA

A liturgia do Evangelho segundo São João (Jo 6, 24-35) é como um eco da mensagem anterior sobre a multiplicação dos pães e dos peixes.

No milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, relatado na primeira parte do capítulo 6 (Jo 6,1-15), Jesus tomou os cinco pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam e fez o mesmo com os dois peixes. Jesus alimentou aproximadamente cinco mil homens.

Pois bem, na manhã seguinte, aquela multidão que tinha sido alimentada pelos pães e pelos peixes multiplicados e que ainda estava do “outro lado” do lago chamado de Tiberíades percebeu que Jesus tinha regressado a Cafarnaum e foi a seu encontro. Então, a multidão subiu aos barcos e foi à procura de Jesus. Encontrando-o do outro lado do lago, disseram-lhe: "Rabi, quando chegaste aqui?". Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade, vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos saciastes. Trabalhai, não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece para a vida eterna, alimento que o Filho do Homem vos dará, pois Deus, o Pai, o marcou com seu selo".

Ora, Jesus tinha percebido que a multidão estava equivocada e que O procurou pelas razões erradas. A multiplicação dos pães e dos peixes pretendeu ser, por parte de Jesus, uma lição sobre amor, sobre partilha e serviço. Porém, a multidão não conseguiu captar completamente a mensagem, não conseguiu entender o significado profundo do gesto, ficou só pelas aparências, nos milagres e só percebeu que Jesus podia oferecer-lhe, de forma gratuita, pão em abundância, ou seja, o alimento físico.

Na verdade, as pessoas enxergaram Jesus como um “profeta milagreiro” que distribuía pão e peixes gratuitamente e em abundância. Portanto, o fato de procurarem Jesus não significa que tenham aderido à sua proposta; significa, apenas, que viram em Jesus um modo fácil e barato de resolver os seus problemas materiais.

Então, eles falaram a Jesus: "Que faremos para trabalhar nas obras de Deus?". Respondeu-lhes Jesus: "A obra de Deus é que creiais naquele que ele enviou". Existem pessoas que são assim, não é verdade? Pessoas que só procuram Jesus na hora do aperto, quando estão em dificuldades financeiras, quando estão desempregadas e, quando conseguem o que buscam, simplesmente O ignoram, esquecem o essencial, que é invisível aos olhos...

A resposta de Jesus foi clara: é preciso aderir a Jesus e ao seu projeto. Muitas pessoas buscam realização pessoal no dinheiro, na fama, no poder econômico, nos modismos, em posição social, nas drogas, na bebida, no sexo, mas tudo isso é passageiro, é efêmero, tudo isso passa, porque tudo um dia acaba, depois vem um grande vazio interior, porque isso é superficial e, pior, escraviza o ser humano. É ilusão acreditar nessas coisas...

Então lhe perguntaram: "Que sinal realizas, para que vejamos e creiamos em ti? Que obra fazes?. Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes pão do céu a comer". Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu, mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo". Disseram-lhe: "Senhor, dá-nos sempre deste pão!". Jesus lhes disse: "Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede”.

Meus amigos, para receber o alimento que dá vida eterna e definitiva, é preciso que se acolha as propostas de Jesus e aceite viver no amor que se faz dom, na partilha daquilo que se tem com os irmãos, no serviço simples e humilde aos outros homens. A nossa adesão às propostas de Jesus não é da boca para fora, mas com gestos concretos, em obras concretas e deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida. É acolhendo e interiorizando esse “pão” que se adquire a vida que não acaba.Deus nos dá, de forma contínua, a vida eterna, mas é preciso acolhermos a proposta que Jesus faz e vivê-la nos gestos simples de todos os dias. Seguindo Jesus, acolhendo a sua proposta no coração e deixando que ela se transforme em gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, assim encontraremos paz, amor, felicidade, seremos plenamente realizados.

Não devemos esmorecer ou desanimar quando aparecerem os problemas ou duvidar da providência divina, não duvide! Ao contrário, acredite, tenha fé: Deus jamais abandona qualquer pessoa, foi Ele que enviou seu Único Filho, porque desde sempre e em todo lugar, Ele está perto do homem, chamando-o, pois, nas palavras do Catecismo da Igreja Católica, no nº 27, “...Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar”.

Brasília 03.08.2012.
Maria Auxiliadôra