segunda-feira, 6 de agosto de 2012

JESUS, O PÃO DA VIDA

A liturgia do Evangelho segundo São João (Jo 6, 24-35) é como um eco da mensagem anterior sobre a multiplicação dos pães e dos peixes.

No milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, relatado na primeira parte do capítulo 6 (Jo 6,1-15), Jesus tomou os cinco pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam e fez o mesmo com os dois peixes. Jesus alimentou aproximadamente cinco mil homens.

Pois bem, na manhã seguinte, aquela multidão que tinha sido alimentada pelos pães e pelos peixes multiplicados e que ainda estava do “outro lado” do lago chamado de Tiberíades percebeu que Jesus tinha regressado a Cafarnaum e foi a seu encontro. Então, a multidão subiu aos barcos e foi à procura de Jesus. Encontrando-o do outro lado do lago, disseram-lhe: "Rabi, quando chegaste aqui?". Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade, vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos saciastes. Trabalhai, não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece para a vida eterna, alimento que o Filho do Homem vos dará, pois Deus, o Pai, o marcou com seu selo".

Ora, Jesus tinha percebido que a multidão estava equivocada e que O procurou pelas razões erradas. A multiplicação dos pães e dos peixes pretendeu ser, por parte de Jesus, uma lição sobre amor, sobre partilha e serviço. Porém, a multidão não conseguiu captar completamente a mensagem, não conseguiu entender o significado profundo do gesto, ficou só pelas aparências, nos milagres e só percebeu que Jesus podia oferecer-lhe, de forma gratuita, pão em abundância, ou seja, o alimento físico.

Na verdade, as pessoas enxergaram Jesus como um “profeta milagreiro” que distribuía pão e peixes gratuitamente e em abundância. Portanto, o fato de procurarem Jesus não significa que tenham aderido à sua proposta; significa, apenas, que viram em Jesus um modo fácil e barato de resolver os seus problemas materiais.

Então, eles falaram a Jesus: "Que faremos para trabalhar nas obras de Deus?". Respondeu-lhes Jesus: "A obra de Deus é que creiais naquele que ele enviou". Existem pessoas que são assim, não é verdade? Pessoas que só procuram Jesus na hora do aperto, quando estão em dificuldades financeiras, quando estão desempregadas e, quando conseguem o que buscam, simplesmente O ignoram, esquecem o essencial, que é invisível aos olhos...

A resposta de Jesus foi clara: é preciso aderir a Jesus e ao seu projeto. Muitas pessoas buscam realização pessoal no dinheiro, na fama, no poder econômico, nos modismos, em posição social, nas drogas, na bebida, no sexo, mas tudo isso é passageiro, é efêmero, tudo isso passa, porque tudo um dia acaba, depois vem um grande vazio interior, porque isso é superficial e, pior, escraviza o ser humano. É ilusão acreditar nessas coisas...

Então lhe perguntaram: "Que sinal realizas, para que vejamos e creiamos em ti? Que obra fazes?. Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes pão do céu a comer". Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu, mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo". Disseram-lhe: "Senhor, dá-nos sempre deste pão!". Jesus lhes disse: "Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede”.

Meus amigos, para receber o alimento que dá vida eterna e definitiva, é preciso que se acolha as propostas de Jesus e aceite viver no amor que se faz dom, na partilha daquilo que se tem com os irmãos, no serviço simples e humilde aos outros homens. A nossa adesão às propostas de Jesus não é da boca para fora, mas com gestos concretos, em obras concretas e deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida. É acolhendo e interiorizando esse “pão” que se adquire a vida que não acaba.Deus nos dá, de forma contínua, a vida eterna, mas é preciso acolhermos a proposta que Jesus faz e vivê-la nos gestos simples de todos os dias. Seguindo Jesus, acolhendo a sua proposta no coração e deixando que ela se transforme em gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, assim encontraremos paz, amor, felicidade, seremos plenamente realizados.

Não devemos esmorecer ou desanimar quando aparecerem os problemas ou duvidar da providência divina, não duvide! Ao contrário, acredite, tenha fé: Deus jamais abandona qualquer pessoa, foi Ele que enviou seu Único Filho, porque desde sempre e em todo lugar, Ele está perto do homem, chamando-o, pois, nas palavras do Catecismo da Igreja Católica, no nº 27, “...Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar”.

Brasília 03.08.2012.
Maria Auxiliadôra

O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO - Jo 6, 1-15

Jesus passou para a outra margem do mar da Galiléia, também chamado de Tiberíades (que, na realidade, é um lago) e uma grande multidão o seguia, porque tinha visto os sinais que ele realizava nos doentes e que representam a libertação do homem da sua debilidade e fragilidade. É um Povo marcado pela opressão, que quer experimentar a libertação. Eles perceberam que só Jesus, o libertador, conseguirá ajudá-los a superar a sua condição de miséria e de escravidão. Então, Jesus subiu à montanha e aí se sentou com os seus discípulos.

Estava próxima a Páscoa, a festa mais importante do calendário religioso judaico, que celebrava a libertação do Povo de Deus da opressão do Egito. Na época de Jesus, a Páscoa era a festa da libertação e da constituição do Povo de Deus; mas era também a festa que anunciava esse tempo futuro em que o Messias ia libertar definitivamente o Povo de Deus. Nesta altura, o Povo devia subir a Jerusalém para, no “monte” do Templo, celebrar a libertação; em contrapartida, a multidão segue Jesus para um outro “monte”, do outro lado do mar… O Povo começa a libertar-se do jugo das instituições judaicas e a perceber que é em Jesus que se vão inaugurar os tempos novos da liberdade e da paz.

Então, quando Jesus levantou os olhos e viu a grande multidão que a ele acorria, disse a Filipe: "Onde compraremos pão para que eles comam?" Disse isso para pô-lo à prova, pois Ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer. Filipe respondeu: “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um”. Ora, cada moeda devia valer uma fortuna e nem duzentas moedas seriam suficientes para comprar alimento para tanta gente... Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isto para tanta gente?” Só por curiosidade, os números “cinco” (“pães”) e “dois” (“peixes”) cuja soma dá “sete” – o número “sete” significa totalidade. É uma totalidade fracionada e diversificada; mas que, posta ao serviço dos irmãos, sacia a fome do mundo.

Enfim, quando Jesus levantou os olhos e viu a grande multidão que a ele acorria, peguntou a Filipe: "Onde compraremos pão para que eles comam?" Qual a solução que Jesus vai dar à “fome” da multidão? Jesus vai provar que é possível encontrar uma solução. Jesus disse: “Fazei sentar as pessoas”. Havia muita relva naquele lugar, e lá se sentaram, aproximadamente, cinco mil homens. Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. O “dar graças” significa reconhecer que os bens são dons que vêm de Deus. Ora, reconhecer que os bens vêm de Deus significa reconhecer que eles são um dom gratuito que Deus oferece aos homens; e Deus não oferece a uns e não a outros… “Dar graças” é reconhecer que os bens recebidos pertencem a todos os homens. E fez o mesmo com os peixes.

Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” Ora, uma vez saciada a fome do mundo, através desses bens que a comunidade recebeu de Deus e que pôs ao serviço de todos os homens, os discípulos são chamados a outras tarefas. Há sobras que não se podem perder, mas que devem ser o princípio de outras abundâncias. É preciso multiplicar incessantemente o amor e o pão… Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”. Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte.

Alguns dos que testemunharam a multiplicação dos pães e dos peixes têm consciência de que Jesus é o Messias que devia vir para dar ao seu Povo vida em abundância e querem fazê-lo rei. Jesus não aceita. Ele veio sim, saciar os que têm fome, que são aqueles que são explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados, abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto social ou econômico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de que a maioria desfruta; são as crianças vítimas da violência e da exploração; são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das multinacionais; são as vítimas do imperialismo e dos interesses dos grandes do mundo… É a esses e a todos os outros que têm “fome” de vida e de felicidade, que a proposta de Jesus se dirige.

Ademais, os discípulos de Jesus são convidados a responsabilizarem-se pela “fome” dos homens e a fazerem tudo o que está ao seu alcance para devolver a vida e a esperança a todos aqueles que vivem na miséria, no sofrimento, no desespero. No final, os discípulos são convidados a recolher os restos, que devem servir para outras “multiplicações”. A tarefa dos discípulos de Jesus é uma tarefa nunca acabada, que deverá recomeçar em qualquer tempo e em qualquer lugar onde haja um irmão “com fome”.
Brasília 27.07.2012
Maria Auxiliadôra