Como se sabe, o tráfico humano é um crime que atenta contra a dignidade
da pessoa, já que é o cerceamento da liberdade, portanto, é um dos modos da
escravidão. Não se pode entender a dignidade sem a liberdade! Por essa razão,
justifica-se o lema inspirado na carta de Gálatas: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (5,1). E a CF 2014
deseja despertar a sensibilidade de todas as pessoas sobre esse drama humano.
Quando se fala em tráfico humano, e isto não é questão religiosa,
deve-se levar em consideração diversas modalidades tais como:
- tráfico para a exploração no
trabalho (trabalho escravo ou forçado ou semiescravidão ou degradante);
- tráfico para exploração sexual
(exploração da prostituição ou de outras formas de exploração sexual);
- tráfico para a extração de
órgãos (venda de órgãos de doadores involuntários ou doadores que são
explorados ao venderem seus órgãos em circunstâncias eticamente questionáveis);
- tráfico de crianças e
adolescentes (adoção ilegal, tráfico de crianças e adolescentes para
finalidade de exploração sexual);
- trabalho infantil
(trabalhos domésticos em idade precoce, trabalho escravo, prostituição,
atividades ilícitas –tráfico de drogas, trabalhos perigosos à saúde infantil).
Citei apenas algumas modalidades...
Hoje, fazemos o convite aos professores para, junto com os alunos e a
família, discutir a temática do tráfico humano. Não apenas discutir, mas
trabalhar essa temática em sala de aula, de modo prático a fim de que haja uma
maior conscientização do problema por parte dos estudantes.
Vai uma sugestão: o professor de Português pode incentivar o
aprofundamento do assunto solicitando que os alunos pesquisem em jornais,
revistas, internet figuras que estejam relacionadas, por exemplo, com o perfil
dos aliciadores, como identificá-los, como se comportam, onde podem ser
encontrados, grau de escolaridade, quais meios utilizam para aliciar, quem pode
ser vítima dos aliciadores...
A partir daí, os próprios alunos podem discutir em pequenos grupos,
sobre como se defender em diversas situações e como denunciar. Como resultado,
poderiam escrever textos; montar cartazes; elaborar tirinhas para apresentar
para toda a turma. Quem sabe, poderiam fazem um concurso de redação... É uma
maneira divertida, sem deixar de ser séria!
Aliás, diversas disciplinas podem interagir, como História, Geografia,
querem ver?
O processo de colonização do Brasil foi sob duas formas: a tomada das
terras dos índios, os quais também foram escravizados, e a exploração da força
de trabalho dos negros, inclusive traficados da África.
Como se vê, é um problema antigo, porém, não apenas no Brasil. No
continente africano, também, praticava-se a escravidão e isto facilitou o
tráfico internacional de pessoas...
Portanto, existem inúmeros temas a serem trabalhados, como: tráfico de
pessoas, escravidão, trabalho forçado, preconceitos raciais, discriminação,
dignidade humana, direitos humanos (universais, invioláveis, inalienáveis,
irrevogáveis), segurança, cidadania, exclusão social, adoção ilegal, tráfico e
doação de órgãos, desaparecimento de pessoas... Assim, cada tema merece uma
reflexão, consequentemente, deve-se aprofundar as reflexões.
Outra sugestão: pode ser convocado um diálogo entre a escola
(professores, alunos, funcionários), pais, paróquias, pastorais, igrejas
evangélicas, enfim, toda a comunidade, tendo como pauta o modo pelo qual
pode-se identificar as causas e modalidades do tráfico humano e os rostos que sofrem
com essa exploração. É de assunto de interesse geral, não é verdade? Pode ser
um gesto simples, mas gestos simples desencadeiam ações de libertação.
Às vezes, na casa do seu vizinho ao lado existe uma situação que você
jamais imaginaria que pudesse acontecer e que deve ser denunciada. Ou com
alguma criança, ou um aluno, ou pai/mãe de aluno...
Ademais, deve-se exigir do Estado brasileiro um serviço de atendimento
às vítimas do tráfico de pessoas, de reintegração e diminuição da
vulnerabilidade, principalmente de crianças, adolescentes e mulheres.
Os professores e os pais devem trabalhar junto a crianças, adolescentes
e jovens, principalmente aqueles que, pela pobreza, estão mais vulneráveis, dando-lhes
noções de direitos humanos, a partir de situações concretas e próximas a eles.
É fundamental desenvolver atividades que promovam a conscientização de
situações que envolvam o tráfico humano, inclusive buscar instituições que
lutem na erradicação de toda e qualquer forma de tráfico. Deve-se ficar atento
e, ao se constatar uma situação como as aqui referidas, deve-se denunciar!
Brasília
04-04-2014
Maria
Auxiliadôra